
Será que a moda pode ser verde?
Cada vez mais tenho visto designers independentes e criadores de pequeno porte abraçando a produção de moda de uma forma ética e sustentável.
Alguns questionam o fato do preço ser mais alto quando se trata de uma peça produzida pelo viés não convencional, mas é o preço de algo feito com mais qualidade e respeito com quem produz.
Porém, não podemos esquecer um detalhe: não é para todo mundo.
Os preço são mais altos e o público limitado.
Negócios sustentáveis
Os negócios de moda que trabalham sob uma perspectiva consciente e sustentável , estão atentos à questões legais que envolvem seus colaboradores.
Não compactuam com trabalho escravo, priorizam a saúde do trabalhador e oferecem remuneração digna. Isso aumenta o custo do produto.
Esses produtores também prestam atenção aos impactos que sua atividade causam ao meio ambiente e minimizam esses impactos de todas as formas possíveis.
A produção é mais cara, logo os lucros podem ser menores se o preço for mais acessível.
Grandes varejistas da moda estão começando a mudar

O mercado também muda quando o consumidor muda e o consumidor de moda hoje não é mais o mesmo.
Contudo, a responsabilidade não pode ficar restrita ao consumidor.
A parcelas de pessoas que pode comprar em varejistas brasileiras de moda sustentável é muito pequena. E quanto mais limpa a produção, mais cara, restringindo o público.
Apesar do ter crescido o número de pessoas que se preocupa com as consequências do seu consumo, há pessoas que mesmo preocupadas não têm condições de aderir à moda ética e sustentável devido ao alto preço.
Uma família cuja renda total é dois salários mínimos não possui poder aquisitivo para pagar R$400 reais em uma calça de algodão orgânico produzida de maneira sustentável e consciente.
Logo, consciência ambiental sem poder de compra acaba se tornando uma tortura psicológica.
Pequenos sinais de uma moda mais verde
Grandes varejistas como a Renner e a C&A têm inserido produtos feitos com algodão mais sustentável em suas coleções.
A medida tem aparência de greenwashing, pois quando visitamos as lojas há muitas peças com acabamento péssimo oriundas da China, mostrando que os trabalhadores devem ter costurado aquilo sob pressão.
Mas já é um iniciativa.
Vi tambem que começaram a fiscalizar com mais rigor os seus fornecedores para coibir o trabalho infantil e o análogo à escravidão.
Outro ponto positivo, aqui destaco a C&A, são as caixas coletoras de roupas usadas para reciclagem.
Há ainda iniciativas como a da Amaro, que é carbono é 100% carbono negativo, não apenas reduzindo sua emissão de CO2, mas compensando a que não consegue com a compra de créditos de carbono.
Essas são inciativas que contribuem para uma moda mais sustentável e esse é o futuro da moda.
Produtos de tecido de reuso
Também tenho visto nas lojas produtos que foram feitos a partir do reaproveitamento de outras peças de peças de roupa ou sobras de tecidos de coleções passadas. São os famosos tecidos de reuso.
Uma exemplo cujo trabalho admiro e acompanho é da loja Milamar, feita por mãe e filha.
Elas são responsáveis por todas as etapas da coleção e usam tecidos de refugo para criarem suas peças.
O que seria descartado ganha vida em novas peças. Isso é um dos sinais de que a moda pode ser verde!
Peças com um ciclo maior de venda
Outra coisa que tem me chamado a atenção são as peças que têm voltado às lojas, mesmo depois da coleção findada.
Na Renner vi o mesmo vestido sendo vestido praticamente o ano todo. Ele acabava, depois chegava um reposição dois três meses depois.
Em um passado não muito distante a novidade sem limites alimentava as vitrines.
Ver um pouco de repetição, de peças que estão sendo produzidas porque têm demanda é um sinal de que as coisas estão cada vez mudando mais.
Minimize as compras
Um dia desses , ao folhear um livro de moda brasileira em uma livraria aqui da minha cidade , deparei-me com um capítulo dedicado à defesa do Fast Fashion.
O texto afirmava que essa modalidade chegou para democratizar a moda e fazer com que todos possamos consumir peças similares às de grife.
Por um lado é verdade. As gigantes do Fast Fashion como a Shein, fornecem tamanhos e modelos para todas as silhuetas e estilos.
E uma das características da moda do futuro é a personalização. Quanto mais próxima do gosto e estilo do cliente, mais converte. E hoje temos uma infinidade de estilos coexistindo.
Mas há o lado negativo.
O modelo Fast Fashion ainda é alvo de críticas quanto ao modo nada claro de produção. Apesar de Shein, Zara e outras gigantes afirmarem que não há trabalho escravo, uma ves que se terceiriza a produção, fica difícil controlar.
Nem todas as roupas baratas dessas empresas são de péssima qualidade, há muita coida boa, de tecido nobre e bem confeccionada.
Mas há muito lixo em forma de roupa e uma indução ao consumo frenético, pois praticamente toda semana há novidades.
Esse consumo doentio é altamente estimulado por “ícones da moda” nas redes sociais (que não repetem roupa).
“Superfaturados” que não valem
Além do consumo doentio, temos o consumo ideológico. Marcas são idolatradas por alguns.
As lojas de departamento, como a Riachuelo e a C&A já protagonizaram coleções feitas em colab com grandes grifes.
Numa delas, um vestido da marca Versace estava à venda na Riachuelo por R$379,90, mas a mercadoria aparentemente encalhou e no final da coleção era possível ver o mesmo vestido por menos de trinta reais:

Somos seres consumidores
Eu sei que não dá para simplesmente não comprar mais roupa, nós precisamos delas.
Roupas são importantes no nosso dia dia, pois afirmam nossa personalidade e elevam a nossa autoestima.
Mas nós precisamos repensar a maneira como esse consumo acontece.
Veja algumas dicas para comprar de maneira consciente , sustentável e ética.
- Conheça melhor as marcas que você consome ( veja o app MODA LIVRE);
- Procure saber de onde vêm as peças que suas marcas preferidas vendem
- Reduza o consumo em grandes Fast Fashions como Zara, Renner, Shein ;
- Olhe a etiqueta, veja se o tecido é de fibra natural, reciclada;
- Sinta o tecido, mais peso é sinal de mais qualidade e resistência;
- Se a fibra for sintética , avalie se realmente é uma peça versátil que vai ser muito utilizada e ainda se possui boa qualidade;
- Avalie o que você precisa, veja a compra cabe no seu orçamento, se o dinheiro dá ;
- Não fique naquela paranoia louca de que não pode repetir roupa pois é deselegante, repetir roupa é algo normal e você pode criar inúmeras combinações com as peças que já possui.
Lembre-se de que por mais que as tendências ditem o que vai dominar o mercado da moda, você é quem tem o poder de querer ou não.
Acompanhe as tendências, mas sempre adapte-as ao seu estilo e gosto. Não se deixo escravizar por elas.
Até porque tendência passa e se formos nos guiar por elas ficaremos com o armário entulhado de peças inúteis e fora de tempo.
Sugestões de leitura
Sugiro duas leituras para você que deseja se aprofundar no assunto:
- Moda com propósito;
- O Futuro da Moda
- Ecochic: O guia de moda ética para a consumidora consciente
- Moda Minimalista.
A moda pode ser verde?

Sim. mas o caminho é longo e talvez nunca isso seja 100% realidade em todas as produções.
Mas nós podemos contribuir um pouco para melhorar essa realidade.
Comece consumindo menos, escolhas bem de acordo com seus recursos.
Não se cobre em demasia, pois você não pode salvar o mundo.
Mas pode fazer a sua parte consumindo com consciência e propósito.
Livros que você pode gostar de ler:
Muito boa a materia ! Gostei esclarecedor !!!!
Obrigada Val! Abraço!